domingo, 17 de fevereiro de 2008

Conhecida atualmente como Transtorno Afetivo Bipolar – TAB, e até alguns anos atrás como Psicose Maníaco-Depressiva – PMD, nome que foi alterado devido a este transtorno não apresentar necessariamente sintomas psicóticos, pois na maioria das vezes esses sintomas não aparecem.

A incidência desta patologia na população mundial tem crescido enormemente. Se fosse contagiosa, poderíamos considerar uma verdadeira epidemia. Quem de nós nunca teve contato com um portador da doença, que na maioria das vezes passa desapercebido ao nosso lado. Através de estatísticas elaboradas por todo o mundo, existem milhões de pessoas diagnosticadas com TAB. A Unicamp (Universidade de Campinas) possui um programa sobre a temática da depressão, coordenado pelo Dr. Roosevelt Cassorla, professor do Departamento de Psiquiatria, que aponta que a doença é o grande problema do final do milênio e que atinge cerca de 6% da população, sendo a segunda maior causa de mortes, constando depois apenas dos acidentes automobilísticos.

Mas quantas pessoas existem sem ter um diagnóstico elaborado, quanto tempo se passa até que se ultrapasse todos os nossos tabus e que se venha a procurar tratamento com um profissional competente, ou seja, o psiquiatra, e também o psicólogo. Normalmente são anos, às vezes décadas. As crises no início são espaçadas, e quase não se percebe a diferença dos sintomas para os traços de personalidade do indivíduo, ou mesmo episódios isolados de tristeza, ou de muita alegria, competência nos trabalhos ou estudos, sensualidade, ou um certo descuido com a vida financeira. Por milhares de vezes esse diagnóstico nunca chega a ser dado, e o não-paciente, passa uma vida inteira entre altos e baixos, podendo por fim a sua própria vida, numa total solidão de vivências exacerbadas. Estima-se que 1 em cada 4 casos sejam diagnosticados.

Bipolaridade não é considerado loucura, e portanto não dá o status de alienação mental. Infelizmente, visto que nas fases agudas da doença, depressão ou hipomania, o doente não apresenta as qualificações necessárias que lhe atribuam plenos poderes das suas faculdades mentais. Será que pode ser considerado mentalmente são, àquele que é capaz de por fim a sua própria vida ou a de outros. Num estado de insanidade tal de pensamentos confusos e sentimentos desconexos, alguém que pode passar por um processo de ciclotimia, por uma gama infinita de humores em menos de 20 minutos, e por um segundo tendo a arma certa na mão cometer um ato final para si ou outrem, haja vista que para ele, o portador de TAB, essa era a única saída.

Gostei muito da descrição de uma crise depressiva (moderada), escrita por Marina W. em seu livro, “não sou uma só: diário de uma bipolar”, quando diz:

Então você fica deitada na cama, os pensamentos ruins fazendo fila e se empurrando para ver qual vai se manifestar primeiro; daí você chora, tenta pensar em coisas boas, mas não consegue. Etc. Este etc. É um mundo de sensações ruins.

Meus amigos me ligam e isso me angustia, porque eles não entendem como esse processo demora.”

O Transtorno Afetivo Bipolar não tem cura, porém possui tratamento através de medicamentos cada vez mais avançados, a medicina tem evoluído muito nessa área. Quando se pensa que até pouco tempo atrás, os PMD´s, ou seja, os psicóticos maníacos-depressivos, ficavam internados em hospícios e eram tratados com eletro choques, e atualmente podem contar com uma série de remédios anti-depressivos, estabilizadores do humor (anti-convulsivos) e ansiolíticos, que serão ministrados a cada paciente, de forma personalizada, segundo as características de cada estágio da doença, e da resposta a dosagem medicamentosa, e que ainda podem ter uma vida “quase” normal, sem internações, em casa com seus familiares, realmente foi um grande avanço.

Mas afinal, qual são os sintomas dessa doença?

Como se processa bioquimicamente no paciente?

Como é transmitida?

Em primeiro lugar, esclareço que a doença não é contagiosa, como qualquer outra patologia psiquiátrica. Ou pelo menos não dá forma como conhecemos o termo “contaminação”. Já que é praticamente impossível se conviver com alguém mentalmente instável, sem que se venha a ter algum tipo de seqüela emocional. “A loucura é contagiosa” já dizia o médico psiquiatra, Dr. André Rangel, diretor do Hospital Psiquiátrico São Vicente de Paulo, em Brasília - DF. Deve-se ter especial cuidado com os familiares, e as pessoas que lidam diretamente com o portador da doença, instruindo-os sobre os sintomas e como lidar emocionalmente com as perdas do cotidiano que atingem a todos ao seu redor. A psicoterapia ao meu ver é indicada para todos, freqüentar grupos de ajuda mútua, também pode ajudar ao familiar a ultrapassar os seus próprios sentimentos de impotência, mágoas, rejeição, violação, perdas, etc..

E se não é contagiosa no sentido literário da palavra, como é transmitida? Em 80% dos casos ela tem origem em fatores genéticos,

Foi publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria, vol 21, um trabalho realizado pelo Dr. Martin Alda, Professor do Departamento de Psiquiatria da Dalhousie University do Canadá, que tratava sobre como os fatores genéticos contribuem para a predisposição a ao desenvolvimento da doença.

“...A herança do transtorno bipolar é complexa, envolve vários genes, além de apresentar heterogeneidade e interação entre fatores genéticos e não-genéticos. Achados, que já foram replicados, já implicaram os cromossomos 4, 12, 18 e 21, entre outros, na busca por genes de suscetibilidade.... A identificação dos genes relacionados ao transtorno bipolar irá permitir o melhor entendimento e tratamento dessa doença.”

Acredita-se ainda que um fator de grande stress na vida do paciente, possa desencadear a doença.

É uma doença psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises repetidas de depressão e mania (euforia), com freqüência bastante variável, o que se denomina ciclotimia. As crises podem ser graves, moderadas ou leves. Conforme a ciclagem do humor e ainda a intensidade com que se projetam.

O que pode vir a sentir o doente quando está na fase da:

DEPRESSÃO

Ø Preocupação com fracassos ou incapacidades e perda da auto-estima;

Ø Pensamentos negativos, sem conseguir afastá-los;

Ø Sentimentos de inutilidade, desespero e culpa excessiva;

Ø Pensamento lento, esquecimento, dificuldade de concentração e em tomar decisões;

Ø Perda de interesse pelo trabalho, pelos hobbies e pelas pessoas, incluindo os familiares e amigos;

Ø Preocupação excessiva com queixas físicas;

Ø Alterações do apetite e do peso;

Ø Agitação, inquietação, sem conseguir estar sossegado; ou perda de energia , cansaço, astenia;

Ø Alterações do sono: insônia ou sono a mais;

Ø Diminuição do desejo sexual;

Ø Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz;

Ø Idéias de morte e de suicídio; tentativas de suicídio;

Ø Auto-flagelação, dicotomia;

Ø Uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de outras substâncias entorpecentes;

Ø Perda de noção de realidade, idéias estranhas (delírios) e ´vozes´ com conteúdo negativo e depreciativo.

MANIA, HIPOMANIA, EUFORIA

Ø Irritabilidade extrema; torna-se exigente e zanga-se quando os outros não acatam os seus desejos e vontades;

Ø Alterações emocionais súbitas e imprevisíveis, os pensamentos aceleram-se, a fala é muito rápida, com mudanças freqüentes de assunto, fuga de idéias;

Ø Reação excessiva a estímulos, interpretação errada de acontecimentos, irritação com pequenas coisas, levando a mal comentários banais;

Ø Aumento de interesse em diversas atividades, despesas excessivas, dívidas e ofertas exageradas;

Ø Grandiosidade, aumento do amor próprio. A pessoa pode sentir-se melhor e mais poderosa do que os demais;

Ø Energia excessiva, possibilitando uma hiper atividade ininterrupta;

Ø Diminuição da necessidade de dormir;

Ø Aumento da vontade sexual, comportamento desinibido com escolhas inadequadas;

Ø Incapacidade em reconhecer a doença, tendência a recusar o tratamento e a culpar os outros pelo que corre mal;

Ø Perda da noção da realidade, idéias estranhas (delírios) e “vozes”;

Ø Abuso de álcool e de substâncias excitantes.

genialidade e o portador do Transtorno Afetivo Bipolar

Pesquisadores provaram que existe relação entre genialidade e o portador do Transtorno Afetivo Bipolar, já que na fase da mania, este possui grande fluidez de pensamento e muita energia, ficando várias noites sem dormir, mas toda essa genialidade não é via de regra, dos considerados gênios criativos da humanidade 40% eram bipolares, porém somente 10% dos bipolares são considerados gênios, mas que os outros 90% são normais e ainda padecem todas as dores psíquicas por terem desenvolvido a doença. Existe também uma outra estatística, muito menos feliz, que comprova que 40 a 50% dos encarcerados nas prisões americanas são portadores da doença. Em crises de euforia, movidos pela impulsividade, se utilizam de meios violentos, contra o seu oponente, podendo inclusive cometer um homicídio.

Aqui estão relacionados algumas pessoas que tinham ou tem TAB, e que se destacam em várias áreas do conhecimento humano, predominam nomes de expoentes internacionais, devido as fontes de pesquisa serem na sua maioria estrangeiras:

A BioquÍmica por trÁs da depressÃo

Na Depressão os neurotransmissores sofrem uma recaptação, ou seja, não conseguem seguir a diante e ocupar os neurotransmissores do neurônio seguinte e assim são metabolizados (destruídos) nas sinapse. Os neuronsamissores são responsáveis pelas nossas emoções. A Serotonina é responsável pela sensação de prazer e felicidade e é justamente sobre esse neurotransmissor que sofre recaptação e destruição que agem os antidepressivos.

Existem vários tipos de neurotransmissores: Serotonina (5TH1, 5TH2, ),GABA, Dopamina, Histamina, Noradrenalina.

Os neurotransmissores são produzidos nas sipanes (espaço entre um neurônio e outro), a partir desse ponto percorrem todo o neurônio e vão ocupar os neuroreceptores do neurônio seguinte.

Serotonina

A Serotonina é uma substância chamada de Neurotransmissor que existe naturalmente em nosso cérebro e, como tal, serve para conduzir a transmissão de uma célula nervosa (neurônio) para outra. Atualmente a Serotonina está intimamente relacionada aos transtornos do humor, ou transtornos afetivos e a maioria dos medicamentos chamados antidepressivos agem produzindo um aumento da disponibilidade dessa substância no espaço entre um neurônio e outro.

Para se ter uma noção da influência bioquímica sobre o estado afetivo das pessoas, basta lembrar dos efeitos da cocaína, por exemplo. Trata-se de um produto químico atuando sobre o cérebro e capaz de produzir grande sensação de alegria, ou seja, proporciona um estado emocional através de uma alteração química.

Outros produtos químicos, ou a falta deles, também podem proporcionar alterações emocionais. Pensando nisso, em meados desse século a medicina começou a suspeitar ser muito provável a existência de substâncias químicas atuando no metabolismo cerebral capazes de proporcionar o estado depressivo. Isso resultou, nos conhecimentos atuais dos neurotransmissores e neuroreceptores, muitíssimos relacionados à atividade cerebral. Alguns desses neurotransmissores, notadamente a serotonina, noradrenalina e dopamina, estão muito associados ao estado afetivo das pessoas. Assim sendo, hoje em dia é mais correto acreditar que o deprimido não é apenas uma pessoa triste, aliás, alguns deprimidos nem tristes ficam. É mais acertado acreditar nos deprimidos como pessoas que apresenta um transtorno da afetividade, concomitante ou proporcionado por uma alteração nos neurotransmissores e neuroreceptores. Inclusive observou-se que as pessoas submetidas a dietas com baixos teores de Triptofano, uma substância (aminoácido) precursora da Serotonina, desenvolviam um quadro depressivo moderado. Também foram realizados testes em pacientes gravemente deprimidos, bem como em pacientes suicidas, e constataram-se também baixíssimos níveis da Serotonina no líquido espinhal dessas pessoas.

Existe um teste (entrevista) internacional para avaliação do grau de depressão chamado teste de Hamilton. Pois bem, este teste mostra altas pontuações (sugerindo maior depressão) em pessoas com dosagem menor de triptofano (o precursor da Serotonina). Essas pesquisas abrem a possibilidade de se utilizar o triptofano como coadjuvante no tratamento de pacientes deprimidos, coisa que já vem sendo feita por muitos psiquiatras.

Também os Transtornos da Ansiedade, principalmente o Transtorno Obsessivo-Compulsivo e o Transtorno do Pânico, estariam relacionados a Serotonina, tanto assim que o tratamento para ambos também é realizado às custas de antidepressivos que aumentam a disponibilidade de Serotonina. Nesses estados ansiosos, também a noradrenalina, um outro neurotransmissor estaria diminuído.

A ação terapêutica das drogas antidepressivas ocorre no Sistema Límbico, o principal centro cerebral das emoções. Este efeito terapêutico é conseqüência de um aumento funcional dos neurotransmissores na fenda sináptica (espaço entre um neurônio e outro), principalmente da Norepinefrina (NE) e/ou da Serotonina (5HT) e/ou da dopamina (DO), bem como alteração no número e sensibilidade dos neuroreceptores. O aumento de neurotransmissores na fenda sináptica pode se dar através do bloqueio da recaptação desses neurotransmissores no neurônio pré-sináptico (neurônio anterior) ou ainda, através da inibição da Monoaminaoxidase (MAO), a enzima responsável pela inativação destes neurotransmissores. Será, portanto, os sistemas noradrenérgico, serotoninérgico e dopaminérgico do Sistema Límbico o local de ação das drogas antidepressivas empregadas na terapia dos transtornos da afetividade.

A constatação do envolvimento dos receptores 5HT, conhecidamente implicados na Depressão, também na sintomatologia da Ansiedade parece ser um importante ponto de partida para a identidade terapêutica dos dois fenômenos psíquicos como tendo uma raiz comum (Bromidge e cols, 1998, Kennett e cols, 1997), seja em relação às causas dos dois transtornos, seja do ponto de vista do tratamento dos dois transtornos com antidepressivos.

No Sono

Os baixos níveis de Serotonina estão relacionados com alterações do sono, tão comuns em pacientes ansiosos e deprimidos. Essas alterações do sono, normalmente através da insônia, deve-se ao desequilíbrio entre a Serotonina e um outro neurotransmissor, a acetilcolina.

O tratamento com antidepressivos pode melhorar o desempenho do sono, embora em alguns casos possa haver insônia. Outro efeito que pode ser muito útil dos antidepressivos é em relação ao tratamento de pessoas dependentes de medicamentos hipnóticos (para dormir), já que estes proporcionam um certo desequilíbrio na acetilcolina.

Na Atividade Sexual

Tendo em vista a ação da Serotonina na diminuição da liberação de estimulantes da produção de hormônios pela hipófise, ou seja, quanto mais serotonina menos hormônio sexual, alguns antidepressivos que aumentam a Serotonina acabam por diminuir a atividade sexual.

No Apetite

A vontade de comer doces e a sensação de já estar satisfeito com o que comeu (saciedade) dependem de uma região cerebral localizada no hipotálamo. Com taxas normais de Serotonina a pessoa sente-se satisfeita com mais facilidade e tem maior controle na vontade de comer doce. Havendo diminuição da Serotonina, como ocorre na depressão, a pessoa pode ter uma tendência ao ganho de peso. É por isso que medicamentos que aumentam a Serotonina estão sendo cada vez mais utilizados nas dietas para perda de peso. Um desses medicamentos é a fluoxetina, a qual, além de tratar a depressão, aumentando a Serotonina, também proporciona maior controle da fome (notadamente para doces).

Outros

Também na regulação geral do organismo a Serotonina tem um papel importante. A temperatura corporal, por exemplo, controlada que é no Sistema Nervoso Central (SNC) recebe uma influência muito grande dos níveis de Serotonina. Isso talvez possa explicar porque algumas pessoas têm febre de origem emocional, predominantemente as crianças. Também interfere no limite da sensação de dor. Algumas doenças caracterizadas por dores de tratamento difícil podem ser muito beneficiadas com medicamentos que aumentam a Serotonina. É o caso, por exemplo, da enxaqueca, das lombalgias (dores nas costas) e outros quadros de dor inespecífica.

http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2003/g4/tratamento.htm

DepressÃo e Religiosidade

Fiz questão de colocar esse tópico no trabalho, porque existe uma tendência do ser humano que não é portador da doença, e até mesmo do que é, em determinada etapa do processo, achar que depressão se cura orando, que é frescura, ou que é um posicionamento mal elaborado de uma mente fraca. Que se pode mudar este estado doentio, se trocando de pensamento pela vontade própria. Como se por vontade própria você adquirisse outras patologias como hipertensão, diabetes, cancer, etc..

Você pode estar se perguntando, mas você é cristã, onde está a sua fé? Porque não posso ficar curado de uma depressão através da minha FÉ.

Bem, eu lhe respondo, com outra pergunta, qual é o tamanho da sua FÉ? O MILAGRE só acontece se você tiver FÉ e merecimento. Jesus dizia que se você tiver a FÉ do tamanho de um grão de mostarda você pode mover montanhas.

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